21.10.08

L´amour et la paix



"Gaiola? Há as feitas com ferro e cadeados.
Mas as mais sutis são feitas com desejos."

"Eu sou eu.
Você é você.
Eu não estou nesse mundo
para atender às suas expectativas
E você não está nesse mundo
para atender às minhas expectativas.
Eu faço a minha coisa.
Você faz a sua.
E quando nos encontramos
É muito bom".

18.10.08

enfim prosa.

É possível meditar enquanto lava-se a louça.
E tal simplicidade inspirou-me a escrever em prosa.

Um retorno delicado, vou pisando com jeitinho na terra terreno arenoso escorregadio...Usar “todas as letras” é as vezes difícil.
Tenta dizer tudo e nunca chega.
Mais ainda quando ousa falar do sutil e do invisível.
Pois para tornar visível é preciso delicadeza
a não fazer desmanchar, diluir ou distorcer o que é frágil sutileza.

Nota: Esforçar-se em não alongar demais.

Voltando ao concreto mundano (tudo que move é sagrado, mesmo cotidiano, agente é que esquece), observava eu, um coador de plástico, escurecido de coar feijão. Quem coaria o feijão? Bom, existe e não vem ao caso.

O fato é que pensava na capacidade que tem a matéria de reter impressões do que lhes passa através. Por extensão de sentido, se matéria é composta de energia como tudo o mais, essa se aplica a lugares, pessoas, objetos coisas, todo visível.
Somos suscetíveis.

Um objeto que serve de filtro, evidencia como sutilezas e poeiras acumuladas de tempo e repetição podem modificar-lhe de forma permanente e visível.

Nota: Observar meia encardida.

Em ditado popular sempre se encontra sabedoria de forma simples. Tudo já foi dito. O contemporâneo é revisitar. Neste caso: “Água mole e pedra dura tanto bate até que fura.” Inclusive a meia, e aquela blusa velha que agente se apega.

É de dizer:
Quantas vezes algo precisa ser dito
até que possa ser compreendido?
A palavra falada, o pensamento proferido, a intenção semi-manifesta... Essas coisas fortalecem com o passar do tempo e da repetição.

É desta forma que nos tornamos aquilo que pensamos
(mesmo sem se dar conta: consciente 10%, inconsciente 90%)

Minha maior intriga do ser humano sempre foi a capacidade inerente de se tornar o que mais abomina.
É simples o conceito do processo: retenção

Um filho de pai autoritário pode tornar-se o mesmo.
Por tanto negar tal atitude, acaba por reproduzi-la.
Assim, por não saber do poder que tem “ uma mentira, quando dita mil vezes, de se tornar verdade”, o que fica retido se faz recorrente e se torna real, visível e palpável. Como o processo é gradativo, há quem se dê conta apenas após o fato consumado.

Nota compartilhada: Lembrar de sempre limpar bem os filtros internos de nossos fluxos de água (água = sentimento) e rever conceitos e (im)posturas sutis. Moralidades.

O restante fica no espaço vazio entre as palavras,
que sequer a prosa pode suprir.

17.10.08

um dia...




Eis que pousa, pintada aos meus pés, mariposa.
Mas pousa ao contrário, como não torna voar.

Levanto-lhe as asas em vôo assistido,
que tarda um tanto mais cessar.

Recorrente.
Ciclo que ali encerra
Mensagem soprada no vento
Quem sabe um nome, palavra-sutileza

O silêncio que precede.

Um dia perdido no tempo.

Ao alcance das mãos,
sinto pequenas porção de azedo
de brilho violeta.
Pequenos acontecimentos
se mostram aos meus olhos como indicações,
dejá-vus e pormenores.

As sutilezas guiam em direção à luz.
Mas poderiam um peixe e um pássaro
habitar o mesmo espaço?

É que algo está prestes a girar alguns graus
na direção da linha sinuosa que traço enquanto existo
e caminho.
Que são raízes?
E o que são asas?

Um palco para meus devaneios
E tudo que sinto é esconder-me.

Existe um esforço que não deveria
Esse vendaval, soprando poeira nos olhos,
empurrando a porta a bater...
Caio da cama como impelida a despertar de um ritual.
Rito de passagem.

Mas por hora, a porta permanece
aberta pelo lado de fora
Entreaberta.
Como tem de ser.
Como tende ser.

Caminhamos pelas mesmas trilhas verdes
Entre luzes e sombras
Alguns passos firmes
Alguns passos em falso
E sempre há busca, nem sempre encontro
Um raio, um espelho ou um mestre.

12.10.08

realinhar




E você?
Como sente cada dia?
Que pensa quando o sol toca teu rosto?
E a pele quando encontra outra pele?
Já ouviu o chamado do vento soprando arco-íris?
E a roda espiral, percebeste?
Então, reconhece tua incumbência?
E o que lhe cabe?

Essa energia que alimenta tudo que se move e orbita
Vibra e pulsa em tudo que capta nossos olhares
E através, nos faz lembrar dos sinais que foram deixados
Como a guiar no processo de despertar
Olhar assistido, como assistência.
Algo-parte sempre assiste, e permanece imóvel.
Alguns caminhos são atalhos, não becos sem saída.
São meios e não fins.
O que reconhece é o que fortalece.
E é de saber que há sempre escolha
Por isso também sempre, risco

O processo é de intensificação
A roda gira cada vez mais rápido
Há quem esteja aguardando
Há quem tenha desviado o rosto
Sempre existe o inacabado.
Mas agora é posto
E nada está isento.

O que nos é velado é onde nossos pés não alcançam
E que assim seja, já que assim é.
Porque cada coisa vem à seu tempo
E os tempos estão abrindo as portas
Iminência.

O sentido é realinhar
Somos pontos. Traçamos retas.
E convergimos.

5.10.08

visão outra




Como dilacerante fosse
adentrar ainda mais
visão de outras luas,
um espasmo do corpo
trazendo de volta alma

Um rosto como posto diante de uma porta

Semblante de mulher forte
trajando vermelho,
olhos profundos
traços orientais,
e ligeiro sorriso
no canto dos lábios

Além-imagem, sentidos outros
Como ocultos de longo tempo
As vozes e cores em som tambor espiral
Recorrente, reconhece e passa adiante
É, foi, será
Do vermelho ao violeta

E o despertar bruscamente
Dissipando essa imagem nuvem
Mais invisível que concreta

Espelho ou reflexo
É de saber que existe
Como fosse lar
Um outro invisível
que anseia e assiste
Espera.
E que o novo
nasce do encontro real.

1.10.08

visível

É sempre bom ter cuidado
ao transportar imagens
do sutil ao concreto.

O sentido por trás do visível
Fragrâncias e sutilezas
Desapercebidas,
ou tomadas por não-dito.

E não pude dizer ao certo
Do que estava posto e visível
Para tal, haveria de não haver ressalvas.
É que soltar as rédeas
faz tremer o chão debaixo dos pés

Há palavras que calam etéreas
Pois sequer cabem tão claras
Fumaça de café preto no frio
Pontilhada e transparente
Ondulante
Uma gota que se perde ao oceano
Se entrega e dissolve
Desobstruindo fluxos

É que leveza a ser profunda
Há de ser cheia de vazio
Cheia de espaços não-ditos
Recônditos esconderijos

E palavras não preenchem
Como fumaça densa,
podem turvar ainda mais
o espaço que conecta olhares
Entre.

O que havia de dizer
está posto no silêncio dos olhos.