26.12.10

Propósito (II)



Mais uma sobre propósito:

Como uma grande peça a vida,
em que os papéis personagens são
convocados em sorteios aleatórios.
Hora se faz o papel do forte, da vítima,
do conhecedor e do vazio.

Um personagem permanece
mas se esconde em todos os outros.
E agente brinca de encontrar,
apontando por trás das coxias.
É a testemunha que se vale do ego para brincar de teatro.
E de esconde-esconde
Só mesmo o ego se leva a sério!
E algumas vezes se recusa
querendo desempenhar sempre o papel principal.

Do mocinho iluminado
que nunca fala das coisas do lado sombra,
só perfeição.
Daquele que conquista sempre o que quer.

Mas o final feliz sempre fica no delírio.
Inexiste.
Inexiste nesse mundo de caos transitório.
Sobretudo final não há.

Nessas brincadeiras de criança,
Ilusão mesmo é o desejo e a conquista
Que nada para em sua mão se não existe
Nada disso
Nada se tem
Nada há que se ter.
Tudo termina inacabado e não termina
Só passa o bastão adiante.

Ilusão maior desse teatro do propósito
é que é sempre meio e nunca fim.
No processo tudo acontece como deve e nunca alcança.
E no inconstante inacabado habita o valor
do eterno observar.

descompasso



Minha fonte de energia
É minha paz de espírito,
A tranqüilidade e o ritmo das batidas do meu coração
Como tambor guia do tempo interno
A sintonizar com o tempo do mundo.
Sincronia.
Não faço esforço de desperdício
quando deixo-me levar pelos movimentos fluidos
que respeitam meu corpo, minha alma, meu tempo.

Quando o estrondo agressivo e barulhento
me brada forte no ouvido,
Ceifa-me a motivação sincera de ser
neste estado de existir no tempo natural

Oscilo entre a luz clara dos potenciais vislumbrados
e a escuridão da perda de sentido que me é tomado de assalto
pela inconseqüência da frustração tua,
minha, de todos, e de ninguém.
Que se fazem ecoar, intensas
E que no eco se multiplicam.

É um duelo de forças ocultas
E é no fluxo e contra-fluxo do tempo chronos
que existe uma alavanca chave
que reverteria esse descompasso coletivo.

Então como trazer às vistas claras
o sentido de crer e não crer,
sem lhe calem e que lhe tapem os ouvidos?
Ouvir é receber.
Receptividade feminina de aceitar
É yin. É yang também

Tanto eu lanço as canelas
à fortes pancadas no escuro
E não encontro saída

Algum vaso se rompeu nessa ligação sutil
E o sentido de reconectar aqui
É mais receber e aceitar e esperar
Do que dizer, pensar agir, decidir e ordenar.

É yin. È yang também.
É integração dos opostos
É limpeza interna, meu pai
É ouvir a voz do vento
É ouvir a tua própria voz interna
Silenciando todo fazer cego, seco
É alma nas coisas e no fazer
E ritmo sem cansaço de exaurir as forças íntimas

É sim, revisão de valores.
E aceitar o novo,
eliminar contradições
e integrar os opostos em síntese

É a última chamada de um trem que se prepara para partir
a cada instante.