25.12.08

sombra




O que há por trás do sol que queima a retina?
Não é trazer clareza de luz às coisas mofadas de guardar?
Então por que se esconde?
Cada um tem seu jeito todo próprio de fugir.
Proteção.

Quantos olhares te lançam?
Quantos olhares sabes atrair?
Vi outra mosca na teia
E senti por ela.
Inevitabilidade.
Mas me achei pior,
pois que achei graça.
Então, quantos olhares devolve?

Gosta de se olhar que eu te olho e sei.
Só o que te falta mais é reagir
Tuas justificativas expiraram,
pois te dizem menino.

Escravo de desejos
Sem tanto controle sobre
Controla através
Duvida e não-dito
Tal tirania.

Sim, eu olhei por trás desse brilho
E penso que teu silêncio constrangido
faz parecer maior a sombra que projeta
nos reflexos vazios
nos espelhos de água que matam tua sede.

O que te move?
O que te contém?
O que te encerra?

Desejo.
Um algo que nunca cessa, propaga ou preenche
Desejas o verbo em si,
o encontro e não o objeto
E por isso sobra
Cresces pelo alimento da busca
e pelos olhares que colhe.

Então, me responde
É quando cai a máscara que se sente fraco?
Quando se liberta o outro por si do teu silêncio?
Quebra o encanto. Porque faz enxergar o que dói mais.

Existe algo de farsa nessa leveza e beleza.
Não sustenta, então pesa sobre ombros alheios
Simples assim.

Que essa luz toda faz recolher enganado
o afeto que lhe direcionam excedente,
transbordante,
porque devem, tal que sobra

É quase sem escolha, porque bate
Confere padrão com padrão
Que tu caças no faro esse tipo

E se repete tão enfadonho
Que nem mesmo te supre mais

Se contentaria com tão pouco?
E por quanto tempo?

Então vê se te mostra, te ergue
E não impõe essa coisa velada
aos desavisados de sorrisos singelos

E vê se acaba logo com isso,
que eu assisto e nunca quis ver pela metade
Ninguém.

16.12.08

fluxus

A vida me conduz
como rio que sou
Buscando as áreas mais baixas
Deslizando,
acariciando o solo seio
do leito sedimentado.
E se não te busco, oceano
É pra não me perder
no infinito de teus olhos
Que ainda assim
sem saber,
o tempo escorrendo
me leva a teus braços.
Inevitável.

12.12.08

catarse, amiga

De passagem, de partida.

Você tinha razão
sobre dizer respeito a si mesma
em separado, isento do outro
O outro é espelho da própria visão turva,
personagem da ilusão que crio.

Eu compreendi, a lição, o todo
Mas doeu fundo, a flecha seta
Chorei feito criança
Quase quis parar de brincar de vida
Aí consegui achar graça, muita mesmo
Sem querer, abri a porta
O cômodo escuro se iluminou

Não, não era nada disso
Foi, em poucos momentos
A primeira idéia estava mais centrada
Para nós, é sempre a última camada
E nunca acaba...e que bom que é assim...

Minha jornada começa gora
Não tenho mais aquele medo
Agora eu sei, sinto através dos poros

Eterno retorno, devir, ponte, ser, É
Chame como quiser.
Inicia um outro conto de fé
Uma parte de estrada maior que a alma
Mas último trecho, enfim.
Agora inicia o indescritível, ser pleno.
Atenção consciente.
Nada mais a compreender.
Nada mais a ser dito.
Não faço mais voto de celibato
Mas faço silêncio.
Emudeço.
Ajeito por dentro
E parto

Eu quero embarcar nessa jornada, a mais livre do mundo
Mais leve que nunca, aventura de criança para o desconhecido
Se eu sumir no mundo, juro que eu não volto mais
Um dia, após outro, meio dia ou mais
Outro dia volto outra, prometo.

11.12.08

espiral



Repito
Apito Apito Apito
Sopro
Pulmão

Roda

Repito
Apito Apito Apito
Batidas no peito
Tambor
Violão

...

Repito
Apito Apito Apito
Leveza
E transformação

Arrepio

Repito
Apito Apito Apito
Assovio
Passo firme no chão.

Sigo cantando

Repito
Apito Apito Apito
Compasso,
melodia
Vibração

Respiro

Repito
Apito Apito Apito
Teus olhos
Corpo
Respiração

Arco-íris

Ritmo da vida

Pulsando
Batendo
Passando
Geração
Em Geração

Memória

Repito
Apito Apito Apito

Sempre.

5.12.08

dobradiças



Dobras no tempo.
Dobradiças do corpo estalam
ao movimento distraído.

O ponto da virada :
Quando os pés tocam o fim das coisas
num forte impulso invertido,
princípio de movimento,
e suspendem a areia acostumada ao fundo
turvando tudo ao redor.

Onde correm frias correntezas subterrâneas.
Redemoinhos e reviravoltas.

Como arrepio que percorre a espinha dorsal até a nuca,
eriçando todos os pêlos do corpo.
Presença
Ausência
Mudança

O toque singelo que pede licença em silêncio
e passa encostando apressado.
A lição de um olhar estrangeiro
Alheio de todo, desconhecido e fundo.

Também,
o vazio infinito que vejo nos olhos outros
e que refletem o meu próprio.
Espelhos. Encontros.
Redescobrir pessoas.
Voyeur do mundo ao redor.
Janela do coletivo.

Vislumbres luminosos recorrentes
Inundações de plenitude repentina
se desdobram em largos sorrisos internos.
Acho graça de tudo.
Criança interior
fazendo acrobacias no peito,
virando estrelinha na beira da praia
Nadar nua.
Nadar noite.

Gratidão, compreensão singela
quase envergonhada.
Abaixa os olhos e promete paciência.
Sorriso amarelo
De quem sabia o tempo todo.

O rubor que faz levar as mãos à própria face, orelhas ou lábios.
Roer as unhas ou enrolar o cabelo nas pontas dos dedos.

Anseio.
Trejeitos.
Nuances de todo sentimento sentido
transparece como escrito visível
aos olhos de quem tem os olhos abertos.

Escrevo no deslocamento diário
Gestos humanos de espera e distração
Induzido pelo transe. Trânsito.
Pelo estado de entre.

Intimidade
Reconhecimento
Telepatia
As repetições que conectam
Desencontros
Desencantos

Ah, sinto saudade como algo relutante e persistente,
mas que é também memória
de chão para trás na estrada.
Poeira. Nuvem passageira.
E que sendo grata,
percorre as duas vias inversas do tempo.

Surge o perdão como o apertar de mãos macias
do que é eterno, provisório e cíclico.
E que sem resistir em conter mais um segundo
lança-se ao abraço profundo e longo.
Redime
Transmuta
Dissolve

A chuva prestando visita,
emprestando seu choro de cura da Terra.
Chove aqui dentro e purifica
Maremotos de balde,
goteiras no chão da casa.

Embaçam as vistas,
tudo distorce no escuro.
Mas quando respira fundo e alinha,
clareia.
E os céus e se abrem.
Raios de sol pelas frestas de nuvem
iluminam alguns pontos da cidade.

Sutilezas derramadas.