24.3.09

da chuva sobre os ombros




Estou chegando, amor
com humildade, Pai Céu.
Estou chegando, Mãe Terra
mais perto do que acredito.

Quando diz bendizer
é a força das coisas ditas.
E quanto mais ditas, mais força
Mais tempo, memórias ancestrais.

Dia desses, as águas me trouxeram de volta
um dizer que fora lançado e esquecido:
Viver a poética, eu disse.

Escolha que é lembrar a força
da propagação do que se diz,
e mais do que se É.

Estou chegando na roda agora, me acolhe?
Povo, todo, parte.
Seres que amo,
e amo a todos os seres
como parte de mim.

Eu fiz a escolha
e sinto nos pés, princípio.
Lição maior tal existência,
Amor.

Não soube amar incontáveis vezes.
Porque o que via
me torturava os olhos,
me ofuscava os sentidos
por vezes, por outras...

Porque meu peito é uma cachoeira
que fiz represar.

Me acolhe irmão, amigo
homem, pai, filho, céu, yang

Também o lado negro
Também o lado luz

Me abraça esta noite
sem que lhe precise pedir.

E perdoa?
Deixa-me chorar ombro,
peito aberto exposto.

Me veja nua, nova,
deixando brilhar amor,
deixando fluir vida.
Tantra, corpo, karma, kama.
Me olha fundo e aceita,
que lhe oferto minha luz criadora
Mãe da energia criativa,
fazendo gerar os sonhos dos homens.

Num abraço cósmico,
roda arco-íris espiral
pulsando tambor
falando baixinho:
"Nós somos um"

Pacha Mama
Madre Tierra
Mãe que acolhe útero,
alimenta o seio da terra
com teu sangue.

Luz clareza de sol pai
que cura das coisas escuras,
das partes ocultas da noite.

Invoco:
Integração
Dois lados do ser.

Mentaliza
Mantraliza:
"Nós somos um"

Afim que seja plena a entrega
à propósito do ser.

Miro aliás, que seja
Lótus, ajna, flor lilás.

do medo que tenho e do tempo que faz

Eu bem lhe queria falar
das chuvas que me recaíram sobre os ombros.
Fazendo sonora a presença sutil,
das palavras que não se fazem ouvir
e das presenças que não se fazem ver.

Mas é que lhe devo invocar
em nome do medo uma última vez,
e que ceda então lugar ao novo.

O que se deseja expresssar mais simples
através do meu corpo, lábios,
existência que se desdobra no caminhar...

A que vim ter entre vós.
Que foi também origem dos desenganos.
Do que sonhei naquela noite ao teu lado,
que me despertou todo medo
e que não soube dizer,
mas que ainda assim me veio perguntar.

Que só ousei dizer uma vez,
mas nunca ao teu ouvido.
E que temi que lhe alcançasse,
que lhe transparecesse,
e que foi todo sentido.

Será que me engano de novo?
Em confundir mensageiro e mensagem?
Se assim for, me perdoe.
Mas devo lhe falar que meu coração bate,
que é vivo e anseia cheio de amor.
Por trás destes muros verdes
de hera cultivada no abandono.

Eu sei que não é o suficiente saber,
mas quantas voltas o mundo há de completar
antes que me possa apresentar a ti e dizer:
Estou pronta.(?)
Por que nesta hora nada haverá de ser dito,
e me perguntarei porque esperei tanto tempo.
Antes nada adianta saber.

Não chego a lugar algum por aqui.
E nada disse, receio.

Teu sentido é como o meu,
exceto pelo medo.
E isso é real.