5.12.08

dobradiças



Dobras no tempo.
Dobradiças do corpo estalam
ao movimento distraído.

O ponto da virada :
Quando os pés tocam o fim das coisas
num forte impulso invertido,
princípio de movimento,
e suspendem a areia acostumada ao fundo
turvando tudo ao redor.

Onde correm frias correntezas subterrâneas.
Redemoinhos e reviravoltas.

Como arrepio que percorre a espinha dorsal até a nuca,
eriçando todos os pêlos do corpo.
Presença
Ausência
Mudança

O toque singelo que pede licença em silêncio
e passa encostando apressado.
A lição de um olhar estrangeiro
Alheio de todo, desconhecido e fundo.

Também,
o vazio infinito que vejo nos olhos outros
e que refletem o meu próprio.
Espelhos. Encontros.
Redescobrir pessoas.
Voyeur do mundo ao redor.
Janela do coletivo.

Vislumbres luminosos recorrentes
Inundações de plenitude repentina
se desdobram em largos sorrisos internos.
Acho graça de tudo.
Criança interior
fazendo acrobacias no peito,
virando estrelinha na beira da praia
Nadar nua.
Nadar noite.

Gratidão, compreensão singela
quase envergonhada.
Abaixa os olhos e promete paciência.
Sorriso amarelo
De quem sabia o tempo todo.

O rubor que faz levar as mãos à própria face, orelhas ou lábios.
Roer as unhas ou enrolar o cabelo nas pontas dos dedos.

Anseio.
Trejeitos.
Nuances de todo sentimento sentido
transparece como escrito visível
aos olhos de quem tem os olhos abertos.

Escrevo no deslocamento diário
Gestos humanos de espera e distração
Induzido pelo transe. Trânsito.
Pelo estado de entre.

Intimidade
Reconhecimento
Telepatia
As repetições que conectam
Desencontros
Desencantos

Ah, sinto saudade como algo relutante e persistente,
mas que é também memória
de chão para trás na estrada.
Poeira. Nuvem passageira.
E que sendo grata,
percorre as duas vias inversas do tempo.

Surge o perdão como o apertar de mãos macias
do que é eterno, provisório e cíclico.
E que sem resistir em conter mais um segundo
lança-se ao abraço profundo e longo.
Redime
Transmuta
Dissolve

A chuva prestando visita,
emprestando seu choro de cura da Terra.
Chove aqui dentro e purifica
Maremotos de balde,
goteiras no chão da casa.

Embaçam as vistas,
tudo distorce no escuro.
Mas quando respira fundo e alinha,
clareia.
E os céus e se abrem.
Raios de sol pelas frestas de nuvem
iluminam alguns pontos da cidade.

Sutilezas derramadas.

Um comentário:

bia de barros disse...

claro que sim! abra o link, pois sempre que eu visito meus post anteriores, visito aqueles que não vejo há tempos...

só não deixe morrer tua...
"...Criança interior
fazendo acrobacias no peito,
virando estrelinha na beira da praia"

linda *-*
bjos!