20.10.09

barulho



Como Manoel (de Barros)
também sou feita de silêncios.

Os mais fundos são feitos de incômodos.
São silêncios inquietos.

Tem uns que se formam leves no ar, e pairam.
Mas logo estouram em partículas invisíveis,
como bolhas de sabão.
São mais reflexivos e coloridos
e também como as bolhas de sabão
fazem arco-íris dentro na luz do dia.

Esses fazem lembrar sonho à cores
e talvez sejam como silêncios ideais.

Alguns dos silêncios tais
são até bem falantes,
outros transparentes, alguns opacos,
e outros bem feios mesmo.

Existem ainda tantos e outros tantos sem fim.
Lacunas.

E de tudo que não me escapa pela boca,
me sai pela culatra atropelado esbaforido
já sem sutileza alguma
que chega arranha na garganta.
São os silêncios destrutivos.
Muito barulho por nada.

Mas por fim quando altivos,
os silêncios se recolhem de fato
ou transmutam em um silêncio medido de poética.
São os mais admirados e nobres tipos de silêncio.
Os feitos conscientes e por escolha.

...

Somente falo quando acredito que nada mais me escuta.
Mas não são tão férteis as tentativas de estabelecer contato.
A linguagem das palavras pode ser tão vazia quanto o silêncio assumido.

Não é fácil ouvir silêncios alheios
Quanto não é fácil ouvir os silêncios internos

Há um mundo tão maior que este
feito somente de todas as coisas não-ditas.
E é para lá, numa parte bem triste,
que vão todas as idéias não manifestadas.
E toda potencialidade desperdiçada.
Na vastidão da intenção que não conclui nem concretiza.
Todos os livros não escritos e fetos abortados.

A parte mais bela do mundo de silêncios
é feita de intenção direcionada, mentalizada e mantralizada.
Nela habitam consciências e seres mágicos
que se desacreditaram da realidade concreta.
Mas que brilham e se movimentam livremente
nas faixas do som akáshico,
vibração das coisas ditas e não-ditas .
São regidos pela consciência da manifestação.

Campo da Fartura: a gratidão manifesta.

...

...

Gratidão.

...

Para ninguém ouvir grito palavras surdas.
Ausente de mim eu invento:
que as coisas que aproximam, tocam de fato.

E não.

Tudo adormece no silêncio do ser-e-não-pensar-sobre-ser.
Ser simplesmente e enquanto o não-mais ainda não (vem).
Porque noutra hora nada mais há de ser dito mesmo.
E a porta se fecha novamente
num espasmo cósmico abdominal
pulsante que regride, implode...
e desaparece.

Na alma do mundo a morte é um piscar de olhos.

Não há silêncio maior do que o nada do tudo.

Um comentário:

Paula Zilá disse...

Esses silêncios que expressam tanto, tantos devires...

beijogrande