23.4.09

do que há de mais triste

Uma lágrima de sangue
não escorre dos olhos
mas do meio do rosto

Não te fere mais, garota.
Dá azar
se olhar nos olhos e ressentir

Cadê o brilho que cantava ainda ontem?

Quanto maior a onda,
mais fundo o sulco que segue
E dispenso agradecida
qualquer diagnóstico

O tempo é para todos
O tempo desfaz
Sempre põem a culpa no tempo
Mal do século

Mas dessa vez
Mais essa vez
Perdoa, vai.

Sinto o peso das coisas que entristecem
Alheias, entulhos e restos

Umas vontades que me alertam enganos e amarras
Armadilhas disfarçadas de sorrisos
E qualquer coisa me invade...

Não me olhe, não me atravesse
Tenho espinhos na alma
Visto aquela carapuça de animal ferido
E arranco de uma vez
A parte que não mais me cabe
e sangro

Dá um pouco de vergonha ser assim
Tão humana, imperfeita, cheia de dores
Tenho as mãos sujas do mau uso
De todas as coisas que me escapam
Quase adoeci do corpo pela via do que não foi
Dá vontade de esconder
Mas parece que cantar lamento
faz ir embora logo

Não se precipite, não se iluda
as coisas hão de chegar a tempo.

Nessas horas
ponho as feridas na barra da saia
e cuido

Trabalho longo repetir em mantra
todas as verdades adquiridas, e crer:
“Isto também passará”

Urgência de limpeza
Além da superfície
coisa forte,
coisa morte,
coisa funda essa vez
Acho que não sai com água.

2 comentários:

Felipe disse...

cavamos um sulco grande, né.
mas nossa alma não é pequena, dona manda.
tempo é bom pq borda algumas coisas sem definição com cores q só depois a gente entende.
as dores vc aguenta sim pq no final das contas dor é algo q faz a alma acordar.
e eu de vez em qdo bem acho sua alma meio q de gigante q adormece.

maria disse...

o tempo é o senhor de tudo.
vivemos num momento denso, cheio de culpas, de "porques"... vamos deixar fluir... deixa o que for, deixa vir.
dói, dói... tudo dói mais forte quando se sente de VERDADE. sentir de verdade é viver de VERDADE.
prefiro sentir a dor real, do que um sentimento superficial.
dói fundo...