27.7.08

menino

Aquele menino moleque do verde
Viu em mim à quem perguntar
Como nunca antes tivesse
Com paciência quem devolvesse
A curiosidade brilhante do olhar

E devorava respostas com sede infinita
De quem esperou
E perguntou tantas vezes
Ao vento e ao verde
Sobre a vida e sobre o mundo
E sobre as coisas da vida e do mundo
Tudo ao redor

Sem ter quem lhe ouvisse
Em silêncio e segredo me disse
Tinha medo do escuro
Mal sabia, o menino
Ter medo do escuro é a forma mais pura
De temer o desconhecido
Mal sabia.
Esse medo, de um jeito ou de outro
Todo mundo tinha.

Queria saber tudo
Do mais singelo ao mais absoluto
Olhava e perguntava
Perguntou sobre a terra,
A fumaça dos homens,
O cristal que carregava.

Perguntou se o mundo acabava
Como fazia o fogo
E a água de onde vinha
O que eram objetos coisas
E para que serviam

Quis dizer tantas coisas
Que quando criança eu gostaria
Que me tivessem dito
E quis falar em poesia

Às vezes lhe refletia a pergunta
E ele era quem respondia
Falava diferente e tinha ainda nos olhos
Brilho de criança que crescia
Entre árvore, céu, rio e chão de barro molhado
De chinelo de dedo
Fruta do pé. Pé na terra
Correr e cair. Joelho ralado
Vaca, pasto verde e leite queimado.

Aqui o tempo passa diferente
O tempo é da terra e do sol
Dá água e do vento
Noites, as de lua cheia
Quando o céu fica claro
Quase que nem dia

Menino perguntador
Mal saiba
Ensinando também eu aprendia.

Um comentário:

Felipe disse...

bunito!